8 de janeiro de 2013

DETONA RALPH


A Disney encantou crianças e jovens de diversas gerações por décadas a fio.

Em um determinado momento, principalmente quando o cinema moderno passou a ser lapidado e a contracultura invadiu Hollywood, parecia que o único refúgio da magia e do universo infantil residia no legado deixado pelo criador de Mickey e sua turma.

O tempo passou.

O mundo mudou.

Ao passo que a infância diminuiu sob determinados aspectos, estendeu-se por outros, foi esquecida em partes, ignorada em detalhes, denegrida em sua essência.

O mundo tornou-se não somente veloz, mas imediato.

A Disney não se adaptou às mudanças e sua dinastia estava enfraquecida.

Apática.

Claramente esquecida.

Foi quando um sujeito chamado John Lasseter e um grupo de pessoas que buscava um novo estilo de animação, não mais artesanal, mas criada por computadores, surgiu.

Foram patrocinados por Steve Jobs e, de repente, eles estavam conquistando o público, conquistando prêmios, conquistando o Oscar...

A Disney aproximou-se e correu um risco: depositou suas fichas neste estranho bando intitulado Pixar.

Em 1995 Toy Story (idem) surgiu, e o mundo mudou.

De lá para cá, a Pixar produziu diversas obras primas: Monstros S.A (monsters inc.), Procurando Nemo (finding Nemo), Ratatouille (idem),
Wall-e (idem), Up – Altas Aventuras (up) e, talvez, o ápice das animações, seja artesanal ou não, Toy Story 3 (idem).

Parecia que Lasseter e sua turma haviam captado a necessidade do novo público.

Não bastava encontrar a essência do universo infantil e convencer os pais de que valia a pena vê-la. Era necessário encontrar um elo entre o universo infantil e o universo adulto sem separá-los por um abismo.

Às vezes, eu me vejo no meio de dezenas de adultos sozinhos, sem filhos, sem sobrinhos, sem netos ou irmãos mais novos, gargalhando em meio às sessões.

É difícil saber quem se diverte mais: eu ou meu filho.

Diante deste novo mundo, a Disney aprendeu a lição.

Se os últimos dois filmes da Pixar: Carros 2 (cars 2) e Valente (brave) não foram exatamente um êxito (pelo menos no aspecto da criatividade), e as próximas produções: a continuação de Monstros S.A e Toy Story 4 me deixam temeroso por estarmos diante de uma possível estagnação da criatividade e do início das franquias, a Disney, afinal, deu um passo adiante.

E desta vez, com suas próprias pernas.

Detona Ralph (wreck-it Ralph) tem um título estranho, certamente que sim.

Mas demonstra um amadurecimento naquele que estava fadado a tornar-se um eterno parque temático.

O cenário já é de uma ousadia tremenda: seguimos a vida de personagens de fliperama nos momentos em que eles estão fora de seu ambiente de trabalho.

Bowser e Zangief interagem como amigos ao lado de um grupo anônimo de vilões de jogos que tentam entender o porquê de terem nascido maus, de terem sempre que tomar a atitude destrutiva. Essas reuniões ocorrem na casa do fantasma de Pac-Man.

Do outro lado, heróis se reúnem no bar de Tapper (quem tem mais de 30 anos lembra desse) na happy hour ao final de um dia árduo no trabalho nas mãos dos garotos que jogam fliperamas.

Essa é uma sacada genial, afinal, diante dos pais modernos, que elo maior entre duas gerações que os jogos eletrônicos?

Eu não vou resumir a história, quem quiser conhecê-la, eu sugiro que compareçam ao cinema. O filme vale a pena.

A pergunta que fica no ar é simples: estaria a Disney no caminho certo? Poderia a Disney ser capaz de recobrar sua originalidade? Aquela, perdida algumas décadas atrás? Ou estaria a Disney apenas esquecendo a fórmula e buscando ser original?

O arquiteto catalão Antoni Gaudi disse certa vez: “A originalidade é a volta às origens”.

Se isso for verdade, a Disney tem um imenso baú a explorar.